_____________________________________________________________
Tempos idos, nunca esquecidos, da velha Baixada Fluminense...
___________________________________________________________
A PRAÇA E A PRESSA
A nossa praça da Liberdade faz jus ao nome que tem. Pra ser sincero mesmo, eu acho que ela deveria até ter seu nome trocado para praça da Mãe Joana.
A promiscuidade de sua vocação talvez se explique em razão da antiga denominação. Você sabia que, entre outros nomes, a praça da Liberdade, em Nova Iguaçu, já se chamou Ministro Seabra?
Aí está. Eis a cândida razão histórica de seu destino devassado: Seabra. E ela agora vive aberta a todo e qualquer devaneio dos urbanistas iguaçuanos.
"A praça é do povo como o céu é do condor", dizia o nosso bom Castro Alves. Em nosso caso, no entanto, até mesmo os versos do romântico baiano foram remexidos e, a se ver pelos escombros, a praça da Liberdade agora é do condor, e o céu certamente não será do povo.
Não é o projeto em si, não é. Que, afinal, no papel tudo cabe e é bonito, e é viável. O que se discute aqui é a obra, é a sua realização.
Por outro lado, sabemos que a pressa é inimiga da perfeição. Deus, que é Deus, fez o mundo em alguns dias, e deu no que deu. Ou deu no que Deus, sei lá.
O próprio cine Verde, outrora tão importante (Tão importante que integra parte das memórias de Augusto Frederico Schmidt - único poeta modernista que aqui viveu na década de 20 como gerente da serraria de Alberto Cocozza) foi contaminado pela desdita permissiva desta praça. Ali, bem acima do letreiro dos filmes pornôs que ele exibe (Eta verbinho parreta!), lia-se há pouco tempo uma ameaça estarrecedora: A KILO ABERTO.
Poucos lugares conheci que sofressem uma perseguição tão obstinada das chamadas autoridades constituídas: cada governo municipal investe contra ela com uma ferocidade demolidora.
Quem já teve a oportunidade de avistá-la do alto da estação ferroviária, em outras eras, ou de se sentar à sombra generosa de suas árvores, não mais a reconhece com as vísceras à mostra, assassinada em pleno centro de Nova Iguaçu.
O estrago que lhe foi causado é de dar inveja a grupos profissionais do terrorismo internacional. E o pior é que os nossos terroristas locais não se manifestam. Nenhum Jack Estripador tupiniquim reivindica para si a responsabilidade do esquartejamento.
Reparem que não estou falando em nome do comércio, estabelecido já há tantos anos que nem sei se já se acostumaram os comerciantes com o permanente desvario da paisagem.
Falo em nome dos passantes, anônimos e humildes, em nome dos transeuntes diários, em nome dos velhos aposentados, vagabundos no dizer presidencial, que deixam de repente de curtir as suas damas simultâneas, as de seu tabuleiro e as de nossas calçadas.
Falo em nome do cidadão iguaçuano, cansado de ser espoliado em seus direitos mais civis, em suas coisas mais públicas, de maneira hostil e anárquica.
Falo em nome do cidadão comum que, perdendo pouco a pouco a sua história, vai ficando agora também sem geografia.
Primavera de 1999
__________________________________________________________________
Trovas de Saudade
Me lembro da minha infância
Com tamanha nitidez
Que, no colo da distância,
Pego sarampo outra vez...
______________________________________________________________
Se o tempo passa e não volta
Que ao Natal me seja dado
Pedir a Deus, sem revolta,
De presente o meu passado.
_______________________________________________________________
Natal é o mais triste dia
No lar que tem a tristeza
De uma cadeira vazia
Na cabeceira da mesa...
_________________________________________________________________
Poema de Saudade
PERFIL
Um relâmpago
Traçou o teu perfil na noite
E clareou
Uma saudade antiga...
Até mais...
O garçon não traz seu comment?! Comenta aqui!!...
Mais uma dose do Anônimo, no balcão às: 19:09
